terça-feira, 11 de maio de 2010

Assustador

Vi um anúncio de emprego no jornal que me chamou a atenção. Apesar de ser um cargo inferior a outros que já exerci, achei interessante por ser numa instituição tradicional e também uma oportunidade de deixar de trabalhar para “os que vestem branco.” Mesmo que isso significasse menor salário.

A vaga, de auxiliar administrativo, não requeria muita coisa: experiência em atividades administrativas e em arquivamento, nível médio e conhecimento em informática.

O anúncio se repetiu no final de semana seguinte, e até pensei que haviam republicado pela baixa entrega de currículos.

Fui chamado à primeira fase de seleção. Chegando ao local, fiquei surpreso com a quantidade de pessoas que foram convocadas: 150. Soube depois que haviam sido enviados 500 currículos no total. Surpreendente mesmo.
Animei-me com a abstenção: Devem ter faltado uns 50 candidatos nesta fase.

Uma prova de interpretação de texto com um tema de jornalismo. 15 questões apenas.

Passaram à próxima fase 50 pessoas: todas que tiveram, pelo menos, 70% de acertos na 1ª prova.

Seria uma avaliação psicológica. Pelo número de pessoas, descartei uma dinâmica de grupo. Achei que deveriam aplicar uma prova escrita, para que numa outra fase, houvesse uma dinâmica e entrevista.

Estava enganado. Passaram a todos uma pequena folha, com meia dúzia de perguntas. Devíamos escrever e posteriormente, diante dos demais candidatos, nos apresentar e responder tais perguntas.
Nome, idade, o que gosta de fazer, o que não gosta de fazer, pontos positivos e coisas que tem que melhorar, o que espera estar fazendo daqui a cinco anos e experiência profissional. Simples assim.

Aos psicólogos de plantão: Desculpem-me a ignorância, mas se um teste destes serve para traçar o perfil de um cidadão, seu diploma deve valer muito pouco no mercado...

E não é que é verdade? Afinal, a apresentação, morosa, repetitiva e dissimulada dos participantes me fez ficar assustado: Havia psicólogos participando da seleção!
Mas não eram só psicólogos. Advogados, professores, analistas de sistemas, filósofos, jornalistas, economistas, pedagogos, professores, todos os tipos de graduados e pós graduados. Gente que está cursando sua segunda graduação, inclusive! Vários em pleno exercício da profissão. Assustador, como diz o título. Alguns outros, como eu, haviam ingressado na graduação e estavam parados, outros, estudando. Talvez dois ou três fossem secundaristas. Alguns candidatos tinham 30 anos de experiência!

O desânimo se fez presente: Não me empenhei em fazer uma boa apresentação, apesar da minha imensa facilidade de falar em público, experiência e formação que se enquadravam perfeitamente à vaga. Para terminar, havia uma redação com o título: “Quem sou eu!” Devia ter escrito: Sou Daniel na cova dos leões. Não o fiz. Tracei umas 15 linhas, sem nenhum tesão, e entreguei rapidamente.

Uma imensa sensação de perda de tempo tomou conta de mim. Não estou desmotivado, mas creio que mudar de área vai ser algo demorado, gastando mais tentativas que imaginei inicialmente.

Fico mais triste por existir tanta gente com formação e que não consegue trabalhar na sua área, seja por falta de oportunidades ou porque não tem competência para tanto. Talvez não tenham sido bons alunos o suficiente para tentar o concurso público, com provas específicas de sua área. Não dá pra entender. Penso, à vezes, que a graduação é um mero canudo pra encher currículo.

Como alguém investe 30, 40 mil reais numa graduação particular e vai tentar vaga num emprego de R$700,00? Quem perde 4 anos estudando jornalismo para ir trabalhar como auxiliar?

Segue vida. Vamos em frente.

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