segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Filosofia do Coletivo 3

Lá vamos nós, atrasados pro trabalho em plena segunda feira. Entro no primeiro ônibus que passa pelo ponto. Um Santa Luzia, que desce a serra nordeste sabe-se lá vindo de qual bairro.
Já noto que as conversas fluem animadamente. Penso: Hoje não conseguirei concentrar em nada, vou ser obrigado a ouvir conversas dos outros. Lá vem post novo no blog.
Não há como sentar-me. Tá tudo ocupado, já a partir da roleta. Me aboleto por ali mesmo, pouco após passar pelo cobrador.
Acho maldita essa inversão de fluxo de entrada e saída dos ônibus. Ali, na frente, quase sempre fica vazio, pq os bancos são, quase todos, destinados a idosos, deficientes, grávidas e obesos (Olha eu dando mole!) mas depois da roleta é o inferno encarnado na forma de um ônibus.
Dali, onde estou, fico entre os dois primeiros bancos pós trocador. A passageira da poltrona da frente, do lado da janela, está virada para trás, conversando animadamente com a passageira da poltrona de trás, no corredor..
Pena dos que estavam ao lado, pois, mais do que eu, estavam incluídos na conversa e nas confissões da passageira, sem ao menos receber algo por aquilo, a não ser os perdigotos lançados em sua direção.
Eis que a passageira, descasada e agora juntada com seu novo companheiro, discorre sobre o seu desprendimento afetivo em relação aos entes próximos: Os filhos, por opção, saíram de casa e forma residir com os pais. A falante passageira diz que isso não lhe atinge, que agora pensa só em si mesma, pois, se os filhos quiseram ir embora, o problema é deles. Mesmo seu filho mais novo não recebe tratamento diferente em relação a este pensamento, pois vai crescer e depois chutar a bunda dos pais e cair na vida. Afinal, eu tenho mesmo é que cuidar de mim. Sou vaidosa e cuido muito bem de mim mesma. Tenho horror de ficar feia (Há!!! Glu glu! Pegadinha do Malandro?) Ficarei velha mas não deixarei de ser vaidosa.
O novo companheiro morre de ciúmes, igual ao anterior. Fica bravo se ela sair bem arrumada e pintada pro trabalho. Sábado passado ela falou que sairia cedo do trabalho pra ir no salão. Quando chegou em casa, sem ter feitos as unhas, ele loprou e perguntou se havia, escrita em sua testa, a palavra OTÁRIO! Ela explicou pra ele que não conseguiu vaga no salão, e por isso a unha não tava feita. Mas ela não se rebaixa não! Não fica abaixando pra companheiro de jeito nenhum. E se ele acha que ela tá arrumando algo fora do lar, e ela não está, é melhor que ele se prepare pq ela vai é arrumar mesmo, pra quando ele brigar, ele ter motivo de verdade!
Neste momento, eu já estava de cabeça cheia com tanto papo furado e exposição de vida pessoal, em alto e bom som, para todos os 50 passageiros daquele ônibus.
Mas podia piorar, com uma cereja no bolo! A conversa descamba pra tratamento dentário, e discorrem então sobre preço de tratamento, descontos pelo sindicato e coisa e tal...
A falastrona contou que, andando pela rua e chupando um Halls com chiclete, sentiu algo estranho na bala, duro, e cuspiu fora o chiclete com tudo.
Passou um pouco e sentiu falta do provisório, o que a fez entrar em pânico. Banguela em plena GETÚLIO VARGAS!
Meu deus, o provisório era caro (imagina só quando ela souber o preço da coroa dentária) e ela saiu rodando pela avenida, procurando pelo chiclete e pelo seu dente.
Morri.
Não sei se ela achou, mas fiquei feliz pelo ponto de descida delas ter chegado e pelo descanso aos meus ouvidos naquele momento.

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