
Li, recentemente, uma entrevista de um dito entendedor de cachaças, chamado Marcelo Câmara, que saiu em defesa das cachaças brancas, notadamente as de sua região, em Paraty/RJ (ele é de Angra dos Reis). O cara detona as cachaças mineiras. Pra que vocês saibam o que ele pensa, vai aqui uma pequena frase da entrevista:
"Minas não fabrica cachaça, mas cachaça envelhecida, ou melhor, geralmente envelhece mal pingas ruins. Mas há algumas, poucas, cachaças e cachaças envelhecidas mineiras, de qualidade superior. "
Bem, o que posso desejar para este cidadão é que seu fígado seja tomado por uma cirrose irreversível, ou que escorregue numa pedra em Paraty, bata a cabeça e caia no mar desacordado. À noite, de preferência.
De qualquer forma, e motivado por ter um grande amigo e VERDADEIRO entendedor de cachaças e que opta sempre pela branquinha (Enio Amaral), em minhas últimas visitas no Bar do Abílio pedi por cachaça branca e me foi oferecida a Araci.
Produzida em São João Nepomuceno há mais de 80 anos, possui uma linha de cachaça fresca, da destilação do ano e ainda cachaças envelhecidas, as amarelas. Já havia visto o rótulo desta cachaça em alguns bares, mas sempre titubiei em experimentar.
Acontece que a cachaça é muito boa! Suave no paladar, desce redondo e não queima. Acompanha muito bem os tira gostos e dá vontade de tomar mais doses.
E, nessas andanças pelos butecos, na companhia do meu irmão José Antonio, passamos pelo Futrica e nos deparamos com a Araci Safra 98: a mesma cachaça, envelhecida. Um néctar, pra dizer a verdade. Se a branca já é ótima, imaginem esta cachaça repousada em tonéis de madeira?
Pois é, esse tal de Marcelo Câmara não sabe de nada mesmo.
Para quem interessar, o Futrica vende a dose por R$4,00 e a garrafa por R$40,00
Boa tarde, Amigo.
ResponderExcluirAcho que o Sr. Marcelo não se expressou adequadamente ou foi mal interpretado; não se preocupou com os amiúdes necessários.
Um químico sabedor da estrutura de uma boa cachaça, pode fazer a mesma afirmação e dizer que a técnica do "envelhecimento" é utilizada, infelizmente, pela maioria dos produtores de cachaça para tentar concertar ou tornar tragável o que originalmente seria terrível.
Se uma cachaça passar mais de 12 meses num barril de até 700 litros, a cachaça deixa de ser cachaça e se transforma em cachaça-envelhecida, pois fica com sua estrutura química completamente modificada de quando somente cachaça. Como é muito difícil encontrar em MG cachaças novas, que não tenham sofrido a interferência do envelhecimento ou descanso em madeiras, se diz que MG não produz cachaça, e sim cachaça-envelhecida.
Os bons produtores, os que se garantem, comercializam a cachaça das duas formas, como é o caso de todos os produtores da região de Paraty e alambiques gaúchos. Infelizmente a maioria dos produtores mineiros não conseguem engarrafar suas cachaças ainda originais, novas, sem interferência de madeira. Qual seria o medo ?
A observação é feita numa visão mais ampla sobre a cachaça e cachaça-envelhecida, não somente pelos seus sabores. Para alguns um bom destilado tem que ter cheiro e gosto de madeira, e as vezes somente isso. Para outros além do gosto da madeira em que foi envelhecida ou descansada é preciso que se verifique no destilado o cheiro e gosto da sua matéria prima, no caso da cachaça a cana-de-açúcar. Como a maioria das cachaças envelhecidas de MG (mais de 90% são envelhecidas), não se reconhece o gosto da cana-de-açúcar, alguns apaixonados pela bebida, exageram em afirmar que MG não faz cachaça.
Esse assunto pode ser um bom papo para uma mesa e algumas doses da nossa cachaça ou cachaça-envelhecida.
Forte abraço.